Amigos da Liberdade da Alma

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

UMA TELA DE RENOIR AO SOM DE DEBUSSY


I Por: Raquel Crusoé Loures de Macedo Meira


Eu devia estar com os meus dezesseis anos e já era considerada uma velha professora do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, isto porque naquela época, em uma estrutura curricular bem diferente e, já possuindo todos os diplomas necessários, fui emancipada em cartório, pelos meus pais, a pedido da D. Marina Lorenzo Fernandez que precisava de professores. Com a emancipação, eu poderia lecionar legalmente, apesar da pouca idade. Comecei por lá aos treze anos.

Neste tempo, não se vinculava a série escolar musical à série da escola regular. Na mesma classe, atendíamos todas as idades, daí que, antes dos meus quinze anos, eu lecionava para alunos crianças, adolescentes e adultos. Muitas vezes, na mesma classe, atendíamos avôs com os seus netos. Éramos uma família. Todos juntos e sempre com muita alegria. Parecia que toda a cidade ali estudava, respondia presente e amava aquela casa de arte, em uma harmonia sempre perfeita.

O conservatório parecia ser o centro do mundo!

Sim, estávamos em uma cidade do interior mas, pelos contatos da Dona Marina, recebíamos os maiores nomes do Brasil, em todas as áreas da arte, como também, continuamente viajávamos para nos aperfeiçoar nos grandes centros.

Ali era o meu paraíso, a minha alegria, a minha vida.

Somente sabia a hora de entrar, nunca a de sair. Por lá eu alimentava o meu espírito, a minha alma e, como eram perfeitos os meus colegas, alunos e amigos. Ou melhor, não havia separação entre alunos, colegas e professores. Jogávamos no mesmo time, sempre comandados por esta figura divina chamada Marina, filha do grande compositor brasileiro Lorenzo Fernandez.

Juro que muitas vezes não a via como humana. Parecia ter sido extraída das Galáxias ou ter caído do céu para a nossa felicidade. Com esta criatura maravilhosa, aprendemos a ser, pensar, agir, falar e fazer música com o coração.

Que tempo mais lindo!

Tantas imagens, tantos sons e quantas cores. Neste momento, a minha mente mais parece uma tela de Renoir sonorizada com a música de Debussy.